Leitor contesta definição de classe média baseada apenas em renda familiar
Por vezes o viés econômico assume peso excessivo no debate público, em detrimento da contribuição de outras ciências humanas. O leitor Ricardo Lugó contesta a definição de classe média baseada apenas na renda familiar:
“Para fazer análise das classes sociais, a Sociologia parece ter mais contribuições a dar que a Economia. A classe média não é definida apenas pelo nível de renda per capita de seus integrantes. Há todo um universo simbólico a ser pesquisado. Simplificando, além de ter renda de classe média, é preciso saber se o sujeito pensa como classe média, tem estilo de vida de classe média, diverte-se como classe média, tem hábitos de consumo de classe média etc.
É preciso analisar, além do capital econômico, o capital cultural. Investigar se a educação tem ou não centralidade na vida dessas pessoas (a classe média tradicional costuma apostar todas as fichas na educação, como forma de obter mobilidade social ascendente), se vão ou não vão a cinema, se leem ou não livros, revistas, jornais, etc. A análise precisa ser mais sofisticada.
Dou um exemplo bem simples: um taxista com escolarização precária, residente na periferia da cidade, passa seus domingos na frente da TV ou fazendo churrasco para a família no quintal da casa que ele construiu com as próprias mãos, mas ganha R$ 5.000 por mês. Um professor da educação básica ganha R$ 3.000, mas reside em bairro localizado no centro expandido da capital paulista e passa seus finais de semana indo a cinemas, museus, livrarias etc. Será que o taxista, por ter renda maior, pertence a uma classe mais alta que o professor? No campo da Sociologia, Pierre Bourdieu ilumina vários desses aspectos”.
O texto por sí só explica o que é classe média.Temos constantemente na mídia nada mais do que propaganda de governantes de plantão tentando convencer o povo de que houve aumento no número de participantes. Agora uma coisa é certa, ” A CUMPANHEIRADA DO PT”
realmente entrou para esta classe graças aos nossos impostos e a roubalheira institucionalizada.
Membros do petismo são todos classe alta ou altíssima.Trabalhando?Propinando nossos impostos.O chefão?Este já bilionário,segundo dizem…
Excelente texto. Descentralizamos a renda, agora precisamos descentralizar a cultura, que por sinal está PÉSSIMA!
Tremenda baboseirada para explicar o declínio do que era a classe média anteriormente e o que é definida hoje pelo governo petista, além de ter um quê de preconceituoso. Para retirar toda a subjetividade própria da sociologia (que nada nos acrescenta neste debate econômico, estamos falando da classe média econômica, não social no texto), temos que usar um conceito matemático, exato, não filosófico. O que está tremendamente errado é o conceito petista de R$ 291 reais per capita ser considerado classe média e não as elocubrações sociológicas-filosóficas-perdas de tempo.
Não há preconceito porque, no meu exemplo, não faço uma hierarquia para definir que estilo de vida é melhor ou pior. Explicito, apenas, que são estilos de vida absolutamente diferentes, entre si, e que, por isso, não podem ser colocados no mesmo balaio: o balaio da classe média, que, de tão impreciso, nada informa. De resto, a Sociologia usa todo um instrumental de pesquisas qualitativas, quantitativas e de observações de campo, as chamadas etnografias, apenas para ficar em alguns exemplos, para identificar, com precisão, como determinados grupos pensam, sentem, agem, relacionam-se entre si e com o mundo. É uma ciência tão objetiva quanto as ciências exatas, embora tenha uma metodologia própria.
O preconceito está claro quando o texto diz que quem construiu a própria casa na periferia e fica vendo TV no domingo não pode ter a mesma classe de quem é professor de educação básica (para mim, ganhando o mesmo valor, são da mesma classe econômica). Podem ter visões diferentes da vida, fazer escolhas diferentes com seu dinheiro, mas economicamente são pares. Todo o resto do artigo reputo como masturbação sociológica como dizíamos na faculdade. Discussões sobre o nada que não levam a lugar nenhum. Levado ao extremo, seu conceito sociológico irá mostrar que cada cidadão, cada família, é de um grupo individual pois tem suas crenças e valores próprios, e aí não se poderá fazer nenhum estudo econômico ou estatístico. O Silvio Santos, que não cursou faculdade e fica domingo vendo TV deve ser, segundo seu conceito, um pobretão, né não? Novamente, o conceito que deve ser seguido neste assunto específico que estamos tratando é o de classe econômica e o absurdo de termos rendas de R$ 291 por pessoa ser contabilizado pelo governo como alguém de classe média, o que claramente não é verdade. Isso é tudo subproduto do João Santana, o guru da propaganda petista, que cria os conceitos para dar assunto para o governo.
Reitero. O preconceito está na sua cabeça, que acha que o estilo de vida do taxista, mencionado no exemplo, é inferior ao do professor, quando, na verdade, é apenas diferente. E se são diferentes não podem fazer parte do mesmo grupo, porque isso não informa o poder público, por exemplo, sobre quais políticas devem ser implementadas no país, em saúde, educação, previdência, etc. Para ficar em um exemplo bem rasteiro: as manifestações de junho, em grande medida realizadas pelas classes médias, mostrou pelo menos dois grandes grupos, em termos de crenças sobre o que o país deveria se tornar: um grupo acredita que se houver combate implacável à corrupção, fim da impunidade e gestão eficiente da máquina pública, todos os nossos problemas serão resolvidos automaticamente; outro grupo acha que a questão central é o baixo investimento do governo em saúde, educação, moradia, transporte, etc. Não porque seja corrupto ou incompetente, embora haja corrupção e incompetência, mas porque se destina uma quantidade colossal das receitas do país para a constituição do superávit primário e o pagamento de juros da dívida. Neste segundo grupo, por exemplo, está o Movimento Passe Livre, que liderou várias manifestações pelo país. O ponto a que quero chegar é o seguinte: quando os grupos pensam diferentemente demandam ações absolutamente distintas do poder público. Há uma parcela da classe média que ainda crê na escola pública e que gostaria que ela voltasse a ser o que era até o final dos anos 60. Há outra que deseja apenas que o governo cobre menos impostos, para que ela tenha mais folga no orçamento para pagar mensalidades em escolas privadas aos filhos (a escola privada é uma forma de a família controlar as relações sociais dos filhos, embora esse objetivo quase nunca seja confessado). Ou seja, não dá pra colocar todo mundo no mesmo balaio, porque a renda é parecida — uns querem ir para o norte e outros para o sul. Evidentemente, que não vai se chegar a 200 milhões de padrões distintos de comportamento, crenças, visões de mundo. Isso desinformaria tanto quanto considerar todo mundo classe média. A tarefa seria, simplesmente, identificar padrões mais consistentes. A publicidade faz isso com muita competência: ela trabalha com quase dez conceitos de classe, nos quais a renda é apenas um dos itens a ser avaliado (só a classe média é dividida em uns três ou quatro grupos). É por isso que a publicidade atinge com precisão os seus objetivos. Por fim, sobre a Sociologia ser ou não conversa de botequim, não vou perder meu tempo em debater isso. Esta questão Durkheim liquidou no século 19.
Lembrando o pensador francês, discordo de tudo o que vc diz mas defenderei até a morte seu direito de dizer. Você está tratando de um conceito e eu (e a matéria) estamos tratando de outro. Não adianta vc brigar com o replay… Não estamos tratando de conceito publicitário para poder atingir com o produto X o público Y. – estamos falando de diferenciação de classes econômicas e estas não podem ser 30.000 diferentes. Se estivessemos estudando a venda do sabonete flores do campo, aí sim, teríamos que visitar (não, meu Deus, não….) a sociologia (se bem que eu acho que vc está tentando cavar uma boquinha para o sociólogo trabalhar em algum lugar legal como uma agência de propaganda), mas no caso o assunto é classe econômica simplesmente. Vc só não respondeu o que seria o Silvio Santos neste seu conceito de classes… Fica pro próximo debate.
Pois é, João, o divertido nestas histórias de blogs é poder debater diversos assuntos, mesmo que existam absolutas divergências entre as opiniões. Nós, os cidadãos comuns, não tínhamos muito a oportunidade de nos expressar, nos meios de comunicação, sobre o que achamos do Hulk, na seleção, do presidencialismo, das políticas públicas, do aquecimento global, etc. Sobre o Sílvio Santos, sem dúvida tem um altíssimo capital econômico, mas não tem um capital cultural tão robusto quanto é o seu capital econômico. Não me parece que faça parte do mesmo segmento social que o falecido José Mindlin, por exemplo, ex-dono da Metal Leve, e um sujeito com altíssimo capital cultural. E isso não é demérito nenhum para o Sílvio Santos, não o estou aqui colocando em posição de inferioridade. Mas ambos, provavelmente, teriam divergências expressivas, em termos de gostos, estilos de vida, visão de país, concepção de mundo e de sociedade, etc. Toda a minha argumentação está centrada num ponto. A divisão da sociedade em classes sociais é útil não como instrumento de propaganda do governo de plantão, mas para que o Estado consiga compreender como pensam e o que querem estes grupos. Se você coloca grupos que pensam de forma radicalmente diferente, entre si, dentro de uma mesma classe, usando exclusivamente o critério da renda, o Estado fica sem essa importante informação e suas políticas públicas acabam sendo implementadas na base do chute, da tentativa e erro. O Estado acaba, hipoteticamente, ofertando (e desperdiçando recursos públicos que são escassos) educação pública de qualidade para um grupo que, na verdade, quer apenas menos impostos para que os pais possam colocar os filhos nas escolas privadas que bem entenderem. Por fim, foi uma satisfação debater com você, até mais.
Ricardo, procure entender que o conceito de classes pode ser feito de 4 trilhões de formas diferentes – todas válidas – mas que para o objetivo deste artigo não podemos levar sua abordagem em consideração pois ela não é prática. Para direcionar políticas públicas outras ou para vender sabonete podemos – na verdade devemos – usar o seu conceito ou qq outro mais amplo que somente o econômico. Mas pelo amor de Deus, estamos em 2013, esqueça esse negócio de Estado forte, o comunismo e o socialismo provaram ser nada mais do que formas ditatorias (quem está no poder está numa boa, aos demais, a planície da igualdade, estudar mais para que, trabalhar mais para que, somos todos iguais…). Todos lutamos por um Estado MELHOR, não necessariamente MAIOR e sufocante. Eu tenho o direito de colocar meus filhos na escola que eu quiser – e conseguir pagar. O Estado deve investir para ter as melhores escolas e sou eu quem escolho, não o Estado quem me impõe, o que devo fazer. O Estado deve ser pequeno, focado em direcionar as regras para convivência social e econômica, investir em educação e saúde, criar condições de investimentos e desenvolvimento, saber tributar e fiscalizar. E o cidadão é livre para escolher o que quiser fazer, segue suas crenças próprias e investe o dinheiro que ganha honestamente onde quiser. Óbvio que para fazer um estudo sobre educação nacional e regional eu nunca usaria o critério econômico das classes como prego, usaria um mais próximo ao que vc defende, mas para um estudo direto sobre distribuição de renda, alocação de recursos emergenciais, alteração de alíqutoas de impostos, eu usaria algo mais próximo do meu. Não esqueça também do pq estamos discutindo este artigo em 1º lugar: nossos inquilinos do poder atualmente querem mandar garganta abaixo dos donos do país (nós), a falsa impressão de que a classe média é gigante agora, cresceu 3 trilhões percentualmente falando desde que eles ascenderam ao poder. E para fechar essa teoria, criaram este critério de quem ganha R$ 291 mensais per capita é classe média. Imagino que ninguém com mais do que 3 neurônios ou que não seja filiado cego do partido que ocupa o poder central agora (e que por conseguinte acredita em tudo o que o governo diga como verdade absoluta – olha outro dado da esquerda bem nítido) entenda desta forma. Você acredita que alguém com esta renda seja classe média? Veja que para essa análise eu não preciso saber se ele é expert em Voltaire ou não – eu só olho a renda per capita e de imediato sei que ele não é de classe média ECONOMICAMENTE falando (intelectualmente ele pode ter de cor todas as partituras de Chopin mas ECONOMICAMENTE ele não é classe média, não tem potencial para consumir como tal pq não tem renda).
Ok, João, continuo discordando, mas, enfim… Deixando de lado a Sociologia, o corte meramente econômico também é subjetivo. Quando se define que é de classe média quem tem renda per capita superior a R$ 290, R$ 1.500 ou R$ 5.000, em cada uma das situações está se considerando, de forma totalmente subjetiva, que para ser de classe média o nível de gastos do indivíduo precisa ser de, pelo menos, tantos reais por mês. Mais ainda: que precisa gastar “X” com educação, “Y” com saúde, “Z” com habitação, “W” com moradia. Sabemos bem que esses hábitos de consumo variam tremendamente, de grupo para grupo que compõe a chamada classe média. Há grupos de classe média que que abrem mão vitaliciamente de viagens nas férias, que adotam uma vida espartana, para colocar os filhos em escolas particulares de elite, que melhor preparam para o vestibular das universidades mais concorridas. E há grupos que preferem colocar os filhos na rede pública, mas ter uma casa de veraneio pra passar os finais de semana. Há grupos que preferem viver em apartamento de 60 metros quadrados em Pinheiros ou na Vila Mariana. E há grupos que preferem casas mais espaçosas na Freguesia do Ó. Há grupos que querem ter o Einstein no plano de saúde. E há grupos que querem simplesmente ser atendidos com mais conforto do que o observado no SUS, até porque moram longe à beça dos melhores hospitais da cidade. Enfim, é preciso tomar cuidado com esses critérios que são objetivos só na aparência, mas não são na essência. Ao identificar com mais clareza quais são, como pensam e o que querem esses grupos, fica muito mais fácil para o poder público saber se a população quer posto de saúde ou biblioteca em determinado bairro, por exemplo. Para não correr o risco de torrar dinheiro público em um posto de saúde que não será utilizado. Agora, o que me intrigou, de fato, foi da onde você tirou que eu estava fazendo defesa do socialismo… Eu até insinuei que não tenho grande simpatia pelo Hulk, na seleção, mas não passei nem perto de defender o socialismo, rsrsrs…
Ricardo, minha opinião é que o conceito econômico é mais direto e menos subjetivo que o sociológico pq parte-se de um pressuposto real – a renda – para efetuar a classificação. Claro que dizer que são R$ 1 mil, R$ 5 mil ou R$ 13,433 mil mensais per capita pode soar subjetivo mas quando tem bases reais (renda x custo de cestas básicas por exemplo ou renda / salário mínimo para ficar em algo mais básico) temos um conceito mais direto e passível de ser estudado. Imagine pegar os 194 milhões de brasileiros e responder à pergunta: quantos são de classe baixa, média e alta? 6 trilhões de critérios podem ser usados mas a renda familiar é o mais direto e vc dá um panorama geral e começa a extratificar depois em estudos mais aprofundados. Seu interlocutor em 1 slide de powerpoint com 1 gráfico de setores já entendeu o que é o país. Aí vc divide por região, por sexo, por escolaridade, e vai juntando 2, 3, 4, 50 critérios e criando sub-grupos e entendendo melhor sua população. Mas partir-se para algo muito subjetivo – quantos são de educação mais básica mas tem renda maior mas tem como passatempo ver TV aos domingos e pintam as paredes de casa nos feriados… fica complicado de fazer um estudo macro. Veja que não discordo de usar outros critérios como os que vc preconiza (eles seriam o 10º slide de powerpoint da minha apresentação). Eu respeito e acredito no seu conceito (apesar de não concordar com a situação do taxista) mas acho que devemos usá-lo em outro contexto e não na 1ª classificação. Quanto ao comentário sobre o socialismo, tenho um faro apurado – senti um esquerdismo no texto e me exaltei – mas que vc tem um apreço pela esquerda tem, não é não? Agora no futebol… justo o Hulk vc foi pegar de exemplo? Eu te provoquei só um pouco, não precisa apelar.
Tá precisando calibrar melhor o faro, rsrsrs.
No contexto do capitalismo moderno, o conceito de classes é sim definido pelo poder aquisitivo.
Trata-se de um critério objetivo de diferenciação, e que é bem útil para ajudar a compreender determinados fenômenos sociais.
Revela-se, no mínimo, temerário pretender a qualificação de classes com base no que as pessoas gostam de assistir.
Isso porque, nesse caso, haverá uma clara valoração subjetiva do que é melhor.
E isso é completamente relativo…
O critério econômico, quando é o único utilizado, só é objetivo na aparência, não na essência. Quando se estabelece, para definir o que é classe média, que o corte será de R$ 200 per capita ou de R$ 1.500 per capita, em cada uma dessas “categorias” está sendo incluído um estilo de consumo que não necessariamente será compartilhado pelos vários grupos que supostamente compõem a classe média. Fazer isso é colocar, no mesmo balaio, grupos que são totalmente diferentes entre si, porque pensam diferentemente, agem diferentemente, têm objetivos distintos. Se um profissional de planejamento, em uma agência de publicidade, chegar ao departamento de criação dizendo “temos que fazer uma campanha para vender este perfume para a classe média”, provavelmente será enxotado da sala aos palavrões, porque esta “informação”, na verdade, não informa nada. Por meio de pesquisas qualitativas e quantitativas, será preciso investigar quem é, de fato, o público: gênero, faixa etária, padrões de consumo, se tem ou não religiosidade, em que valores acredita, que valores repudia, vive em ambiente rural ou urbano, em que bairro vive, qual a escolarização, onde fez a escolarização, como pensa, etc.
Até 2002 era considerado como classe média o cidadão que tinha poder aquisitivo compatível com salário entre 2500 e 5000 reais, hoje categorizar como classe média um sujeito que ganha menos de meio salário mínimo é uma tremenda enganação
O cidadão tem vida de miserável, salário de miserável mas tem rótulo de classe média. A “nova classe média” é a classe miserável com outro nome