Na história, queda do deficit externo indica ruptura da política econômica
O deficit do Brasil nas transações de bens e serviços com o resto do mundo tende a cair neste e no próximo ano, mas essa não é exatamente uma boa notícia -ao menos, não de imediato.
Conforme dados divulgados nesta terça-feira (24), o Banco Central projeta uma queda de US$ 90,2 bilhões, em 2014, para US$ 83,5 bilhões em 2015. Pelas contas mais consensuais dos analistas de mercado, serão US$ 78,4 bilhões neste ano e US$ 69,8 bilhões no próximo.
Na história do país, a tradição é gastar acima das receitas nas relações com o exterior, seja no comércio, no turismo, nos pagamentos de juros e nas remessas de lucros.
Essa tendência só é revertida em momentos de ruptura forçada da política econômica, em geral com alta do dólar, do desemprego e da pobreza.
Basta observar os poucos exemplos disponíveis desde a industrialização brasileira: as vésperas do início da ditadura militar, a crise do petróleo nos anos 70, a crise da dívida externa no início dos 80, a recessão dos anos Collor e o colapso do Plano Real no segundo mandato de FHC.
Em comum, todos foram momentos em que o país foi obrigado a consumir menos -e, portanto, sacrificar seu bem-estar- para se adaptar a cenários de escassez de recursos.
Agora, trata-se do desmonte das políticas da administração petista para estimular o crédito, as compras e as contratações.
Medidas como a injeção de dinheiro do Tesouro Nacional nos bancos públicos, ampliação dos programas de transferência de renda e redução de tributos levaram a demanda de famílias e empresas por bens e serviços a crescer mais rapidamente que a produção nacional.
O resultado foi alta da inflação e das importações, o que levou o deficit do Brasil com o resto do mundo a ultrapassar os patamares considerados seguros para países emergentes -para o mercado global, algo entre 2% e 3% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional).
Com a recuperação da economia dos EUA e maior procura mundial pelo dólar, ficou mais difícil atrair empréstimos e investimentos para cobrir o deficit brasileiro. Não por acaso, a cotação da moeda americana disparou.
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TEM QUE PARAR TUDO. ACABOU A PAZ ! IMPEACHMENT DA DILMA E PRIVATIZAÇÃO DA PTROUBÁS !!!
CONCORDO!
Cobrir o déficit, quando ele cresce e divisas ficam mais caras, é um problema. Mas ter um deficit menor é que é ruim? Mestre, explica-nos essa parábola! Não, não é que não dê pra entender a coisa. É que me parece que vc quis tirar uma regra geral paradoxal (déficit menor é ruim), mas é mais o caso de ver em que pé estamos na conjuntura atual, de forma mais concreta. Sem generalização atemporal abstrata.
José,
A regra defendida no texto é que momentos de redução do deficit são acompanhados de sacrifícios do bem-estar social.
Entre 2004 e 2007 tivemos superávit com bem-estar!!!!!
Frank,
É verdade, graças a uma alta extraordinária dos preços dos produtos primários. Mas note que o superavit foi declinante no período, rumo a um deficit.
Não seria a tradição do Pais de ter elevado deficit em conta corrente dos ultimos 65 anos (com poucas exceções) , responsável pelo enorme endividamento publico com a consequente sangria do pagamento do serviço da dívida , levando ao circulo vicioso de alta das taxas de juros, inflação e desvalorização cambial. O que teria ocorrido se o governo tivesse mantido o deficit em conta corrente em torno de 1 %. por exemplo?
Na década de 70, o deficit em conta corrente era, sim, financiado com aumento da dívida externa. Em tempos mais recentes, ele é financiado, majoritariamente, por investimentos e financiamentos ao setor privado. Hoje, o deficit não provoca aumento de dívida pública (a maior parte dela é interna), mas é, de fato, alimentado pela expansão de gastos do governo, que inflam a demanda interna por bens e serviços.
Quem entende um mínimo de economia sabe que isso é o efeito das políticas fiscais, expansionista pra conter a crise de 2008; contracionista, agora, pra ajustar as contas públicas. Muito drama!
Ou seja, como tradicionalmente gastamos mais do que ganhamos, tudo certo né ? Não ! Não está nada certo. Nenhuma grande nação se faz com essa matemática: produzindo pouco, gastando muito. E não acho que seria diferente com o PSDB no poder. O Brasil é um país de esquerda. Jamais será minimamente desenvolvido. Eternamente uma África com alguns quilômetros a mais de asfalto, no máximo.
Em relaçao ao setor externo, o que tem acontecido é que as moedas de alguns países emergentes com inflação relativamente alta ou muito alta (p.ex. África do Sul, Argentina, Brasil, Rússia) têm se desvalorizado, mas moedas de países avançados com inflação muito baixa, notadamente os países europeus e o Japão e, mais recentemente, mesmo a Austrália e o Canadá, também têm caído em relação ao dólar americano especificamente. O ganho de competividade então para os emergentes quando se considera uma cesta de moedas foi modesto.
Em outras palavras, a queda do déficit externo se dá muito mais pela recessão brasileira do que pela desvalorização do câmbio.